segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Em Portugal o cidadão não pode desaparecer.

"Caminhamos para uma ruína! – exclama o Presidente do Conselho. – O défice cresce! O País está pobre! A única maneira de nos salvarmos é o imposto que temos a honra, etc...»
Mas então o partido regenerador, que está na oposição, brame de desespero, reúne o seu centro. As faces luzem de suor, os cabelos pintados destingem-se de agonia, e cada um alarga o colarinho na atitude de um homem que vê desmoronar-se a Pátria!
– Como assim! – Exclamam todos – mais impostos!?
E então contra o imposto escrevem-se artigos, elaboram-se discursos, tramam-se votações! Por toda a Lisboa rodam carruagens de aluguel, levando, a 300 réis por corrida, inimigos do imposto! Prepara-se o cheque ao ministério histórico... Zás! cai o ministério histórico!
E ao outro dia, o partido regenerador, no poder, triunfante, ocupa as cadeiras de S.Bento. Esta mudança alterou tudo: os fundos desceram mais, as transacções diminuíram mais, a opinião descreu mais, a moralidade pública abateu mais – mas finalmente caiu aquele ministério desorganizador que concebera o imposto, e está tudo confiado, esperando.
Abre a sessão parlamentar. O novo ministério regenerador vai falar.
Os senhores taquígrafos aparam as suas penas velozes. O telégrafo está vibrante de impaciência, para comunicar aos governadores civis e aos coronéis a regeneração da
Pátria. Os senhores correios de secretaria têm os seus corcéis selados!
Porque, enfim, o ministério regenerador vai dizer o seu programa, e todo o mundo se assoa com alegria e esperança!
– Tem a palavra o Sr. Presidente do Conselho.
– O novo presidente: «Um ministério nefasto (apoiado, apoiado! – exclama a maioria histórica da véspera) caiu perante a reprovação do País inteiro. Porque, Senhor
Presidente, o País está desorganizado, é necessário restaurar o crédito. E a única maneira de nos salvarmos...»
Murmúrios. Vozes: Ouçam! Ouçam!
«...É por isso que eu peço que entre já em discussão... (atenção ávida que faz palpitar debaixo dos fraques o coração da maioria...) que entre em discussão – o imposto que temos a honra, etc. (apoiado! apoiado!)»
E nessa noite reúne-se o centro histórico, ontem no ministério, hoje na oposição.
Todos estão lúgubres.
– «Meus senhores – diz o presidente, com voz cava. – O País está perdido! O ministério regenerador ainda ontem subiu ao poder, e doze horas depois já entra pelo caminho da anarquia e da opressão propondo um imposto! Empreguemos todas as nossas forças em poupar o País a esta última desgraça! – Guerra ao imposto!...»
Não, não! Com divergências tão profundas é impossível a conciliação dos partidos!"
In Uma Campanha Alegre – Volume I
Eça de Queiroz
Incrível, como quando lemos Eça, e sabendo que tudo foi escrito há dois séculos atrás, tudo se mantém tão contemporâneo e, ainda hoje, a política, tal como a sociedade, precisa de uma mudança. Será que Eça é que era demasiado evoluído ou nós demasiado atrasados? Talvez os dois.
Actualmente, assistimos a insólitas acusações à governação PS de concretizar políticas supostamente de direita! Mas será isso o importante?
A verdade, e o que verdadeiramente é importante, são a concretização de políticas necessárias e indispensáveis.
Além disso, a oposição, qualquer uma que seja, dever-se-á preocupar mais em apresentar soluções construtivas e inovadoras, em vez de pura e simplesmente negar e estar contra qualquer acção do governo em funções.
Vivemos num momento em que é mais importante o desenvolvimento e o bem do País ou as intrigas ideológicas?
Toda a gente diz que o país está perdido. "De Norte a Sul, no Estado, na economia, na moral, o País está desorganizado". Ninguém se ilude, perdendo-se, através de tudo isto, o sentimento de pátria.
Porém…
"Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia. Eu conheço um país onde tem sede uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores. Mas onde
Outra é líder mundial na produção de feltros para chapéus.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e os vende para mais de meia centena de mercados. E que tem também outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode escolher, pelo seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.
Eu conheço um país que inventou um sistema bio métrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais. E que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos. Que fez mesmo uma revolução no sistema financeiro e tem as melhores agências bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros)
Eu conheço um país que está avançadíssimo na investigação da produção de energia através das ondas do mar. E que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática.Eu conheço um país que tem um conjunto de empresas que desenvolveram sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a pequenas e médias empresas.Eu conheço um país que conta com várias empresas a trabalhar para a NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de exigência. Ou que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas. Ou que vai lançar um medicamento anti-epiléptico no mercado mundial. Ou que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça. Ou que produz um vinho que "bateu" em duas provas vários dos melhores vinhos espanhóis. E que conta já com um núcleo de várias empresas a trabalhar para a Agência Espacial Europeia. Ou que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamentos de cartões pré-pagos para telemóveis. E que está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o Mundo.
O leitor, possivelmente, não reconhece neste País aquele em que vive – Portugal.Mas é verdade. Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas porportugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses. Chamam -se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Primavera Software, Critical Software, Out Systems, WeDo, Brisa, Bial, Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services. E, obviamente, Portugal Telecom Inovação. Mas também dos grupos Pestana, Vila Galé, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo. E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que desenvolveu em Portugal um sistema em tempo real que permite saber quantas refeições e de que tipo são vendidas em cada estabelecimento da cadeia norte-americana).É este o País em que também vivemos. É este o País de sucesso que convive com o País estatisticamente sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos índices na educação, e com problemas na saúde, no ambiente, etc.
Mas nós só falamos do País que está mal. Daquele que não acompanhou o progresso. Do que se atrasou em relação à média europeia. Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito.
De nos orgulharmos disso. De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos - enão invariavelmente o que não corre bem, acompanhado por uma fotografia de uma velhinha vestida de preto, puxando pela arrebata um burro que, por sua vez, puxa uma carroça cheia de palha.
E ao mostrarmos ao mundo os nossos sucessos, não só futebolísticos, colocamo-nos também na situação de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que de bom se tem feito.
Porque, na verdade, se os maus exemplos são imitados, porque não hão-de os bons serem também seguidos?"
Elogio a Portugal in Revista Exportar
Nicolau Santos, Director-adjunto do Jornal Expresso
Estará, então, de Norte a Sul, no Estado, na economia, na moral, o País tão desorganizado? Talvez pudesse estar melhor, mas talvez também pudesse estar pior.
É que Eça de Queiroz, quando o acusaram de "estrangeirado" e "afrancesado" e de contribuir para "desaportuguesar" Portugal, pelo exagero de francesismos na sua obra, com razão, também disse: "Apenas nasci (…), eu comecei a respirar a França. Em torno de mim só havia a França. De cavaleiros portugueses, que dessem cutiladas nos mouros, nunca me contaram história alguma à lareira."
A política precisa de se autonomizar e em Portugal o cidadão não pode desaparecer. É necessário que a inteligência e a consciência estejam em vigor, trabalhando, pois se Portugal não tem fé em si próprio, orgulho nos seus princípios e não se relata, não pode propriamente ter costumes.
Fernando Arrobas da Silva

1 comentário:

André Trindade disse...

Excelente Post! Uma mistura explosiva entre a saga queirosiana e a objectividade do Nicolau Santos!

Este post rebenta com tudo! Aqui se vê a qualidade desta juventude! FORÇA