domingo, 3 de fevereiro de 2008

O Amor da Rectidão

Uma pessoa é honesta, não porque os outros sejam honestos ou desonestos, e sim porque é sua natureza sê-lo.

Já dizia Pascal: "A consciência é o melhor livro de moral e o que menos se consulta" e sem nunca se ter sequer a atitude da consciência, no nosso Mundo, o interesse pessoal passou para a primeira linha e passou-se a viver na dependência.

A pobreza de espírito e a ambição produzem aviltamentos na dignidade, mas a poucos importa também se vivem, ou não, sem carácter e sem opinião se, enquanto uns vivem com um ordenado impossível de acumular, andar o "País engravatado todo o ano/ e a assoar-se à gravata por engano" A. O´Neill.

Neste país de "reality shows" ainda não se percebeu que importantes (importantes não é sinónimo de conhecidos) não são os que aparecem na televisão, mas sim os que se levantam de noite para irem trabalhar, de forma a porem pão na mesa dos seus filhos, com um ordenado que mal lhes dá para se equilibrarem.

Essas, sobretudo essas pessoas, não merecem o que vêem todos os dias nos noticiários e nos jornais diários. Por essas pessoas, os verdadeiros contribuintes, merece-se a formulação de políticas públicas que privilegiem a responsabilidade com os gastos públicos.
Contudo, realizar pesquisas, estudos e acções que contribuam para o combate à corrupção, à promoção da transparência administrativa e à consciencialização ética vem provavelmente nas últimas linhas de programas de governos, planos de actividades de empresas e associações.
Actualmente, as atitudes dominantes são unicamente a do distanciamento geral, a do seguidismo ou a do facilitismo. O comodismo dá jeito e passou-se a julgar o favor, a protecção e a corrupção como funções naturais e aceitáveis.

Ainda assim, o cinismo e o despudor das práticas de alguns fazem sentir outros mais que suficientes e mais evoluídos e respeitadores. E, sem descrença, são esses que têm de se juntar: os reconhecidamente honestos e com ideias.
Honesto não é sinónimo de ingénuo ou de inadaptado social. É antónimo de "pantomineiro" e isso é que importa.

Alguns desaprendem, quando caem na ignorância e na vileza, mas a maior parte das pessoas pensa que a rectidão é uma virtude que se aprende na infância.
Não é fácil ensinar alguém a ser recto, mas quando se tem experiência nos valores verdadeiros, é-se o naturalmente.

E desengane-se qualquer um se julga que são as pessoas mais em evidência, que têm um poder enorme sobre as outras e que dizem ser capazes de alterar o mapa da Terra, que contribuem para as grandes mudanças. Esses só as adiam, pois os Grandes não se auto-promovem. São reconhecidos pelos frutos.
Nada há, pois, como ter princípios.

Fernando Arrobas da Silva

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